domingo, 7 de março de 2010

Das vontades.

A janela aberta: apenas dois palmos para que a gata não fuja. A noite se derrama sobre mim nesse apartamento que de repente encolheu e não pode suportar essa vontade de. Talvez o frio e o cobertor xadrez que tive de tirar do armário. Talvez só o meu ser tão previsível quando se trata às questões do existir em par. O que aconteceu foi uma vontade enorme da sua voz. Nasceu em mim sem avisar como se desconhecesse minha gravidez (da solidão). Onze e quarenta e oito e meu coração batia apertado nessa ânsia de revirar o passado. Cigarro aceso como antídoto para essa falta de ter algo nas mãos. Mas não. Por esses dias meses anos eu andei de mão dada com sentimentos e fantasias e tudo o que criei para mim. Você nunca foi minha. Como na vez em que comíamos na lanchonete do centro e você disse com as feições de quem não entende sobre a brutalidade do sentir que 'ninguém é de ninguém'. Não era cegueira. Você só não estava olhando para o mesmo lado: você não enxergou que naquela tarde na lanchonete do centro eu me fazia sua até a curva do infinito oito. E já passaram-se anos e nas noites como essa em que o frio arrepia os pêlos do braço e a chuva pontua o sentir eu sempre me lembro. Lembrar que para mim parece ser maldição. Que venham então essas vontades, não vou mais tentar evitá-las. O tempo vai atravessar os anos e, talvez, em uma das curvas eu me esqueça dos detalhes-fantasmas-nas-noites-chuvosas. E se não esquecer, meu bem, os tomarei pela mão e eles me farão companhia.